Fake News na Área Médico-Científica

Antigamente as notícias eram produzidas e distribuídas por algumas organizações ou empresas especializadas, mas hoje, com a internet e as redes sociais, qualquer pessoa pode divulgar informações.1 

Essa mudança na forma de disseminação de notícias e opiniões teve um lado muito positivo, pois a informação tornou-se rapidamente acessível para um grande número de pessoas. Por outro lado, conteúdos duvidosos ou errados podem ter sérias consequências, incluindo riscos para a saúde da população. E essas informações falsas ou enganosas mascaradas de notícias legítimas são as chamadas fake news.1 

Por que são tão perigosas?

Mundialmente, existe uma crescente preocupação com as notícias falsas devido ao seu potencial em impactar o bem-estar político, econômico e social, além de serem cada vez mais frequentes.2,3

Mas que tipo de impacto elas podem causar?
A primeira fake news documentada a gerar grandes consequências à saúde pública foi um artigo fraudulento publicado na revista Lancet em 1998, que apontava que a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola poderia causar autismo.4 Esta desinformação foi amplamente divulgada em mídias sociais e, combinada com teorias conspiratórias e outras crenças pessoais, fortaleceu um movimento anti-vacinação. Como conseqüência, em 2020, muitos países perderam o certificado de eliminação do sarampo, incluindo o Reino Unido, Grécia, Venezuela e Brasil.1

Um outro caso ocorreu no final de março de 2020, quando mais de 2.100 iranianos foram envenenados por ingestão de metanol. Apesar do Irã, um país essencialmente islâmico, ter restrições severas ao consumo de bebidas alcoólicas, os pacientes disseram que receberam, através das redes sociais, informações de que a ingestão de álcool poderia impedir a infecção por SARS-CoV-2 (o vírus causador da COVID-19). Como consequência, quase 900 pacientes envenenados por álcool ilícito foram admitidos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 296 morreram.5

Um problema com um grande alcance 

Um estudo publicado pela Science, uma importante revista científica, demonstrou que notícias falsas difundem-se mais amplamente do que notícias verdadeiras, de forma que as verdadeiras raramente se espalhavam para mais de 1.000 indivíduos, enquanto as notícias falsas mais compartilhadas podiam chegar ao conhecimento de 100.000 pessoas.3 Já com relação ao tempo de propagação, as notícias verdadeiras levaram 6x mais tempo para atingirem as primeiras 1.500 pessoas em comparação com as fake news.3 

Porém, ao contrário do que se acreditava, os robôs (sistemas que fazem filtros para selecionar destinatários em mídias digitais) não foram os culpados pela maior “eficiência” na disseminação das fake news, já que propagaram na mesma proporção as notícias verdadeiras e as falsas. Com isso, podemos imaginar que as notícias falsas se espalham mais porque nós, humanos, somos mais propensos a compartilhar fake news.3

Desta forma, checar a fonte das notícias tornou-se ainda mais importante nos dias atuais!

Nós da KACHI levamos muito a sério a criação de conteúdo científico, sempre buscando referências legítimas e, assim, contribuindo para a credibilidade dos materiais promocionais desenvolvidos!

Referências:

1. Mesquita CT, Oliveira A, Seixas FL, Paes A. Infodemia, Fake News and Medicine: Science and The Quest for Truth. IJCS [Internet] 2020;Available from: http://publicacoes.cardiol.br/portal/ijcs/ingles/aop/2020/AOP_editorial-fake-news_i.pdf

2. Allen J, Howland B, Mobius M, Rothschild D, Watts DJ. Evaluating the fake news problem at the scale of the information ecosystem. Sci Adv 2020;6(14):eaay3539.

3. Vosoughi S, Roy D, Aral S. The spread of true and false news online. Science 2018;359(6380):1146–51.

4. Wakefield AJ, Murch SH, Anthony A, et al. RETRACTED: Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive developmental disorder in children. Lancet 1998;351(9103):637–41.

5. Soltaninejad K. Methanol Mass Poisoning Outbreak: A Consequence of COVID-19 Pandemic and Misleading Messages on Social Media. Int J Occup Environ Med [Internet] 2020;Available from: http://dx.doi.org/10.34172/ijoem.2020.1983